quarta-feira, 17 de março de 2010

Eu, eu mesmo e a vida noturna

Não gosto de começos de textos. Sempre temos que pensar em frases "openers" instigantes para obter o interesse e a curiosidade por parte dos leitores, ao mesmo tempo em que sugerimos sutilmente a forma de abordagem e nossa opinião sobre o assunto em questão. Nunca se sabe exatamente o que escrever no início do post, pois geralmente quando somos iluminados com a ideia do assunto (78% das vezes durante o banho), em seguida só formulamos mentalmente algumas frases soltas e aleatórias, que servirão para povoar o corpo do texto em si, e não a introdução.

"Mas que merda de introdução é essa, considerando o título do texto?" - tu pergunta. Não faço a menor ideia. Então vamos pular a formalidade da introdução hoje, já que estou sem paciência, e vamos falar dos porquês de eu não gostar de baladas e afins.

Primeiro porquê: não tenho quase nenhum amigo ideal em festas noturnas para ir junto comigo. O amigo ideal em festas noturnas é aquele que não fica te forçando a nada. É aquele com quem tu joga fora uma conversa normal e interessante (e não aquele papo de "Nossa, hoje eu vou pegar muitas!", etc) no caminho para o local da festa. Durante a festa ele serve como companhia para te deixar mais descontraído e confortável no lugar, evitando situações estranhas e "sem jeito" por não ter ninguém conhecido por perto. E em momento nenhum ele ficará te incentivando incessantemente a beber, nem ficará te dizendo o tempo todo para ir lá "trovar" aquela gostosa que "ele encontrou pra ti". Ele simplesmente curte na dele e te deixa curtir em paz do teu jeito. Cada um faz o que quer e na hora que estiver com vontade, e o amigo ideal em festas noturnas entende e respeita isso.

Em segundo lugar acho que fica a música. Na esmagadora maioria das casas noturnas, o som é horrível. Sem ofensa. Mas é um lixo. Tudo muito repetitivo, sem emoção, músicas que só empolgam nos primeiros 20 segundos e depois disso já se tornam insuportáveis. Porra, até no rock há coisas muito simples e repetitivas, a citar por exemplo Your Time Has Come (uma das minhas músicas favoritas), do Audioslave, que basicamente fica naquele mesmo riff (pan, pan pan pan pan pan, pan, pan pan pan pan pan pan lol), mas é de uma força, energia e simplicidade que te contiagia e vicia do início ao fim; te faz querer pular e balançar a cabeça loucamente. E cadê as belas letras e belas melodias, como em All You Need is Love, dos Beatles, que te emociona e que dá uma imensa vontade de cantar toda vez que a ouvimos? Há força, energia, emoção e beleza em música de balada? Não. Não há nada. Entediante.

Outro problema é o volume do som. Não que eu não goste de música alta, mas para os propósitos do ambiente, som incrivelmente alto não é o mais adequado. Dificulta em 397% qualquer tentativa de comunicação via cordas vocais. É preciso se aproximar do ouvido do receptor e ficar aos berros para que se entenda alguma coisa, ou então tentar comunicação por gestos, o que na maioria das vezes é ineficiente, pois o outro não entende e responde rotacionando as mãos até ficarem com as palmas voltadas para cima e simulando o movimento labial de um "O quê?". E quando estamos conversando com alguém "de interesse", como temos que falar perto do ouvido da pessoa, corre-se o risco de gritar muito alto sem querer e irritar os tímpanos da pessoa.

Normalmente, do ponto de vista de um homem heterossexual, baladas servem basicamente para 4 coisas: ouvir a música, dançar, mulheres e bebida. A primeira utilidade já é absolutamente descartada por mim, conforme disse nos dois parágrafos anteriores. Sobre dançar... Não é comigo. No colégio eu tinha muita coordenação e facilidade para esportes (eu era bom em vários), mas enigmaticamente sempre fui duro, desajeitado e desprovido de ritmo para danças. Também nunca tive uma amiga que tivesse paciência em me dar algumas dicas, e pedir ajuda a um amigo, convenhamos, é embaraçoso e gay.

Sobre o lance de "pegar as minas", acho sem sentido. Com o som alto do jeito que é nessas festas, é praticamente inviável tentar uma conversa. Temos que ter a habilidade de falar algo interessante com poucas palavras, só para acabar beijando alguém que pouco conhecemos, e logo em seguida fazer o mesmo com mais pessoas, potencializando as chances de pegar mononucleose, gengivite, hepatite e até herpes, se tu for muito burro e não estiver olhando direito onde põe a boca. Não seria mais fácil pular logo as trivialidades e pedir o beijo de primeira? Ou beijar logo sem avisar e pronto? Ah, é, esqueci das tais micaretas. Que mundo doente... ¬¬

Mas de qualquer jeito, por que alguém faria isso de sair "pegando" as pessoas? Só para mostrar que é homem e gosta de mulher? O que há com a sociedade? Sério, qual é o sentido de trocar menos de 50 palavras com alguém para depois beijar e em seguida dispensar a pessoa? Alguém me explique por favor.

Se eu me interesso por alguém, primeiro descubro se o jeito e a personalidade dela me deixa confortável (e se ela sente o mesmo comigo), depois procuro saber se ela tem gostos parecidos com os meus, mas tudo isso com uma boa conversa (e algumas fuçadas no orkut dela também, hehe). Isso é conhecer alguém, e é muito difícil de fazer numa balada. Depois de conhecer a pessoa, tu sai mais vezes com ela, e se ao final dos encontros chega-se à conclusão que foi divertido e que tu te sentiu feliz, então tu gosta da pessoa. E é depois dessa conclusão que vem o beijo (e o que tiver que vir junto com ele xD). O beijo é uma demonstração de afeto e intimidade entre duas pessoas, só assim é prazeroso. De outro modo é simplesmente sem significado. É assim que as coisas devem ser: estar com alguém porque gostamos e não para fazer número.

O que sobra é, claro, a bebida. Mas nem por este motivo me parece animador frequentar as baladas. Não é que eu não goste de consumir bebidas alcoólicas. Gosto de Smirnoff Ice, por exemplo. Mas não gosto especificamente do gosto da cerveja. Acho todas ruins. Muito embora eu goste da sensação de "liberdade de expressão" proporcionada por umas latas dela. E como qualquer outra coisa geralmente é muito caro, só sobra ela. Ah, e sem citar os efeitos colaterais e perigos do consumo abusivo e desenfreado, que são duradouros e nada agradáveis.

E por fim, falemos da superlotação. É verdade que quando saio gosto de ver movimento, mas as baladas em geral ocorrem em lugares tão lotados de pessoas que é preciso disputar até o ar que se respira. As pessoas não respeitam o espaço umas das outras, esbarram, te empurram, pisam no teu pé, batem no teu cotovelo fazendo derramar na roupa a bebida que tu estava segurando na mão (sem nem ao menos olhar para trás e desculpar-se)... É uma droga. E acabei de me dar conta de porque sempre fico com vontade de socar alguém na cara quando vou a esses lugares. Ainda bem que não bebo muito. Se ainda por cima eu ficasse bêbado, merda aconteceria...

Em alguns lugares há mesas e cadeiras, em outros também há sofás, poltronas, puffs e coisas do gênero para descansar. Mas não adianta. De acordo com o princípio da superlotação, em boates todos os ambientes para descanso são automaticamente considerados iguais a zero, pois todos os assentos estão sempre ocupados. Levando isso em conta, sobram três opções: 1 - continuamos o resto do tempo em pé, cansados e com as pernas a ponto de explodir; 2 - vamos embora; 3 - esgueiramo-nos por entre o mar humano até achar um (raro) canto sem ninguém num raio de 50 ou mais centímetros. Em caso de sucesso na terceira opção, nos encostamos na parede, coluna ou seja lá o que tiver no local, mas invariavelmete isso só faz as costas doerem mais ainda.

Se o desconforto for muito, então temos que sentar no chão mesmo, mas geralmente ficamos constrangidos de fazer isso, a menos que haja um amigo ideal em festas noturnas presente; nesse caso, podemos pedir que ele sente ali também, e assim ambos não parecerão idiotas ao sentarem sozinhos no chão, já que supostamente haveriam áreas específicas no lugar para esta finalidade, que estão lotadas, mas as pessoas desconsideram esse fato pois em geral parecem ser ignorantes quanto à básica lei física de que dois ou mais corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo.

Mas até sentar no chão envolve o risco de, por exemplo, sentir a tua bunda levemente molhada e perceber que tu acabou de sentar na cerveja que alguém deixou cair no chão, ou pior ainda, no vômito de alguém que não passava muito bem. E como estava muito escuro na porra do lugar, não foi possível enxergar e evitar a nojeira que acabou de acontecer. (Nunca sentei em vômito...)

Ah, e o pior de tudo: temos que pagar por este sofrimento todo. Não só a entrada no estabelecimento, como táxis para idas e voltas. E sai caro. No final, tu não te divertiu realmente, perdeu muito dinheiro - que poderia ser usado em coisas úteis - e ainda está convencido de que tu deve fazer isso de novo sempre que possível para que vejam que tu é normal e aproveita a vida.

Ok, esta não é lá uma daquelas ideias que se possa chamar de original para um post num blog; muitos outros já se aventuraram antes ao expor seus gostos e desgostos publicamente, apreensivos pela incerteza de não saberem se (ou como) seriam julgados pela família, amigos, conhecidos e pela sociedade em geral. Então, é por isso que proponho o seguinte: se tu não gosta de baladas, não esconda e nem se preocupe com isso; tu não é anormal por causa disto. Mande um "Foda-se!" e fale que não gosta mesmo, assuma! E tu não está deixando de "aproveitar" a vida se não frequentar baladas. Aliás, só é possível aproveitar algo de que gostamos de fazer.

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